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sábado, 26 de dezembro de 2009

Das Bitaitadas - Cinema


Depois de tanto se dizer sobre «Avatar» de James Cameron, também eu tive de enturmar com uma cambada de caixas d'óculos dentro de uma sala de cinema, para me expôr à última maravilha revolucionária do cinema: a tecnologia 3D.

Ah, afinal isso do 3D já tem uns anos. Acho que a primeira vez que ouvi falar de tal cena foi na minha mais-que-pretérita infância. Um filme qualquer com monstros. Ou lá o que era...

Adiante!

Um marine paralítico calha a ser o escolhido. Um special one acidental mas que se sabe ab initio ser o lugar comum mais ordinário (em qualquer dos sentidos) que se poderia orientar.
E ele é o eleito para integrar uma equipa de cientistas que se dedica à exploração de um planeta distante - Pandora - e tão abundante de riquezas naturais como de baixas causadas aos humanos invasores, povoado por nativos especialíssimos - os Na'vi, que são uma mistura atabalhoada de elfos, tribos africanas dos clichés de Hollywood e falta de imaginação pura e simples. Para se integrarem na comunidade nativa, almejando um consenso entre humanos e Na'vi e o estudo do interessante planeta, os humanos criam corpos com DNA conjugado de ambas as espécies, transferindo a sua actividade encefálica para tais envólucros existenciais sempre que o espécime humano é adormecido naquelas caixinhas de dormir que todos os filmes sci-fi tendem a ter. Os avatar.

E porque é que o marine paralítico integra aquela equipa de sacrossantos cientistas?! Porque o seu irmão gémeo - sim, chega-se a isto em termos de telenovelismo, e só nos primeiros minutos de filme! -, cientista de profissão, já tinha o seu avatar encomendado quando morre vítima de roubo (latrocínio, para quem seja brasileiro ou não tenha adquirido Códigos Penais no séc. XX).

E o «Avatar» custou muito, muito dinheiro./E o avatar custou muito, muito dinheiro. - Espero que se perceba a ironia desta alternatividade declarativa.

Ou seja, antes uma besta de guerra para usar dinheiro empatado do que somente dinheiro empatado. Tem a sua lógica.

Assim, Jake Sully (o marine, conhecido no imdb como Sam Worthington) segue com a dita equipa, mas, aparentemente a reportar ao vilão consciente, Coronel Miles Quaritc - cópia rasquíssima do mítico Tenente-Coronel (esta patente existirá?) Bill Kilgore, numa escala tão exacta como a dos talentos Stephen Lang/Robert Duvall - ou seja, ao invés de ajudar os bons, ele ajudaria os maus!

Porém, como bom lugar comum que é toda a longa metragem do farfalha Cameron, Jake Sully fica acidentalmente para trás e encontra a filha do chefe... que, ao invés de o liquidar como até então era tradição fazer-se a TODOS, o protege. Decide o chefe que Jake aprenderá os modos dos Na'vi e blá, blá, blá, um monte de cenas de encher chouriço.

Claro que o Jake se apaixona pela civilização que entretanto integrou, pela filha do chefe e pretende proteger amigos e eleita a todo o custo. Há diálogos tão ridículos que se lacrimeja de vergonha solidária.

Até a temática ecológica assume uma vulgaridade impressionante!

Em suma: Avatar só veio revolucionar as buscas no google. Ao invés de pequenas imagens de bonecada e cenas parvas, povoa-se a página de uns Jar Jar Binks do FCP disfarçados de elfos.

domingo, 2 de agosto de 2009

Crítica - The Boat That Rocked


Philip Seymor Hoffman é um grande actor. E não é só pela respeitosa percentagem de adiposidade texugosa. É que não é nos grandes papéis que se afere a qualidade superior de um actor. É nos medianos, naqueles de encher-chouriço, ou contas bancárias, a custo de menores esforços.
Como ia dizendo, bastou ver o nome do SENHOR inserido no elenco para escolher o filme de Sábado à tarde. E, obviamente, só a interpretação de Hoffman, vestindo um The Count que em mais não consiste do que num Lester Bangs recauchutado, requintado, remasterizado, para usar termos mais musicais, já vale o guito do bilhete.

Ora, se adicionar àquele nome o de Bill Nighy, a quem basta um qualquer secundaríssimo quinhão interpretativo para brilhar, estando para a comédia como Judi Dench para o drama, salvo seja, e ainda duas participações de Chris O'Dowd e Katherine Parkinson, 50% de IT Crowd em todo o seu esplendor, epah...! Resulta bem, afianço-vos!

Para ler o texto na íntegra, clickai aqui.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

É tão bom, tão bom...


Esse belo disco chamado "Merriweather Post Pavilion" dos Animal Collective é tão bom, tão bom...

... que até os fuínhas/parciais hype-creators do Pitchfork sacaram de um 9,6 em 10.

Agora a sério: ouvi o disco! É do camandro mas em melhor. =)

sábado, 22 de novembro de 2008

Olá! Tudo bem? ^^

Todos conhecem gente que como cumprimento-tipo utiliza a bela fórmula "Olá! Tudo bem?" do mesmo modo e com a exacta finalidade que teria a menos feliz (?) expressão "Olá, adeus!".

Convecidíssimos de deterem umas social skills do catano, os entoantes do "Olá! Tudo bem?" saúdam os demais com um indian cow smile vagamente enérgico, devolvendo a semblância ao carrancudo-normal logo após esse momento instantâneo de encontro.

Imaginem-se num dia que não poderia estar a correr pior, ou que acabaram de ver a manchete do 24Horas, de saber o nome do rebento Ashlee Simpson/Pete Wentz ou visto a entrevista à Sara Palin em que aparece aquele senhor estranho a decapitar perus... aborda-vos uma dessas criaturas e vos diz "Olá! Tudo bem?".
Pois.
Responder algo que não seja uma anuência monossilábica é impossível sem que o visado com o cumprimento se sinta numa monumental figura de urso.

Vamos por partes:

1º Eles querem de facto dizer "Olá!".

2º Atiram o "Tudo bem?" para parecerem simpáticos.

3º Estão-se nas tintas para o estado das vítimas da sua saudação. E, consequentemente, para uma resposta negativa. Não porque sejam uns altruístas generosos, mas antes porque só a resposta positiva permite o descarte veloz da fortuita troca de palavras.

5º Caso não esteja tudo bem convosco - pelo amor da Santa! - não o dêem a perceber. Se o fizerem, vão-se sentir MESMO estúpidos!

O paradigma do ridículo da prática saudativa do "Olá! Tudo bem?" são as escadas rolantes: os "Olá! Tudo bem?" vão num sentido e as suas vítimas no sentido oposto. Nestas circunstâncias, o facto de a possível resposta àquela questão estulto-retórica ser absolutamente insignificante para quem a coloca adquire as graciosas dimensões de um hipopótamo a coleccionar dedais.

Como qualquer outra coisa que me cause estranheza, pergunto-me sempre pelas motivações. E o problema aqui será sobretudo o facto de elas serem óbvias: para serem simpáticos. --' Mas para isso não era preciso serem... uma beca parvos.

Como de inocente não tenho nada (ou assim pretendo fazer crer), uso o "Olá! Tudo bem?" com aquela gente por quem nutro indiferença ou inata desconsideração em virtude do seu "tipo". Já com pessoas dignas da minha real simpatia, e citando Mário Lino da era "A Norte do Tejo Rula!": jamais!
A utilização da expressão tem uma vertente belicista nada menosprezável dado o seu índice de lesão junto de pessoas que apreciem cumprimentos decentes e/ou , conscientes das 5 verdades supra expostas, sejam susceptíveis de ficar abatidas com o facto de outrem se lhes dirigir com o "Olá! Tudo bem?" em dias merdosíssimos.

Certo é que a expressão prolifera preocupantemente (embora não tanto como aqueloutra "É assim!...). Muitas são as reclamações em tom de desabafo. As vítimas sentem-se acanhadas na hora de se confessar lesadas com ocasiões menos felizes nas suas vidas em que se viram obrigadas a responder "Sim" com absoluta falsidade a um mefistofélico "Olá! Tudo bem?".

Alguém faça alguma coisa!
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Com isto tudo até perdi os meus bons modos... caro leitor: Olá! Tudo bem?

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Crítica - In Bruges


TO: In Bruges
Realização: Martin McDonagh
Com: Colin Farrell, Brendan Gleeson, Ralph Fiennes,Clémence Poésy,etc.

A escola Tarantino começa a frutificar nas suas mais variadas e saborosas formas e o estilo Guy Ritchie anda em voga por estes dias. Snatch foi A CENA, e nos últimos meses Shoot'Em Up e este delicioso In Bruges comprovam que a categoria comedy-thriller tem muito para dar. Tanto assim é, que Martin McDonagh, dramaturgo até agora, se estreia num comedy-thriller que por acaso saca a Colin Farrell a melhor interpretação desde A Home at the End of the World.

A sinopse é simples: dois irlandeses (Ray e Ken - respectivamente Colin Farrell e Brendan Gleeson) que para sustento matam pessoas ali para os lados de Londres, são enviados para Bruges - é na Bélgica - com o objectivo de evitar que a polícia dê com eles, já que o mais novo e principiante, matou acidentalmente uma criança na sua missão carrasca. Quem os mandou para Burges foi o seu chefe, Harry (Ralph Fiennes), um vilão com princípios que não cede rigorosamente nada em situação alguma.
Ken é um indivíduo calmo, deslumbrado com a beleza da cidade e com a sua história. Já Ray está desterrado, incomodado, excruciado e consumido pela culpa. Mas nada disto é tratado em dramalhices domesticadas e plásticas, bem pelo contrário. As situações hilárias somam-se e subtilmente. A natural psicose gandim dotada de um humor impecabilíssimo que se viu a Farrell no Intermission alia-se a uma panóplia de trejeitos faciais que caem na perfeição, consubstaciando o estado psicológico do malogrado Ray.
Para dramaturgo, McDonagh manifesta cinefilia QB: dentro do filme roda-se um outro, cujo actor conhecido por Ray e Ken é um anão deprimido que contrata prostitutas e tem trips onde se revela racista. Ray tem uma obsessão com anões cujo fundamento, apesar de angustiado, não impede que se gargalhe com as suas reacções. Nessa ambiência cinemática Ray engata uma dealer com um "ex" estúpido o suficiente para atacar outro homem com uma pistola munida de pólvora seca e permitir que o seu oponente lha saque das mãos e a dispare contra um dos seus olhos... Dá para perceber que aqui nada foi concebido para obedecer a coisa nenhuma que não seja contar a estória num estilo muito próprio.

A trama vai adensando e a ordem de Harry seja dada a Ken: liquidar Ray.

Até este exacto momento tudo está perfeito. Depois há pontas que se soltam, pouca elegância na conjugação das múltiplas personagens e situações. Alcançando-se somente a justa harmonia na sequência final: contrastam-se a beleza e a quietude das horas da noite no tal cenário onírico com o ajuste de contas do epílogo que Harry veio para saldar.

No final: a redenção, qualquer que ela seja.

In Bruges vale o dinheiro do bilhete pelas gargalhadas da primeira metade.
Ainda melhor: vale o dinheiro do bilhete pela cena em que Ray se senta ao lado de um tipo com um cão ao colo. O assassino e o canino olham-se nos olhos. A conjuntivite do segundo espelha a alma do primeiro. Não via uma cena deste calibre desde o monólogo inicial do Tom Wilkinson no Michael Clayton. Ainda que em registos 100% diferentes... Aqui há um 50/50 de drama e humor sublime.
Vale o dinheiro do bilhete por n motivos. Ainda assim fica-se por aí: é bonzinho, uma agradável surpresa. Sobretudo porque as expectativas não eram elevadas.

Classificação: 3,5* em 5*
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McDonagh escreveu uma peça chamada "The Cripple of Inishmaan".

Cena do cão aos 2 minutos e meio deste video.

domingo, 19 de outubro de 2008

Le Deuxième Souffle - Crítica


T.O.:Le Deuxième Souffle (remake do homónimo, que data de '66)
Realização: Alain Corneau
Com: Daniel Auteuil, Monica Bellucci, Michel Blanc, Jacques Dutronc, Eric Cantona, Daniel Duval...

Um ladrão da velha guarda, seguidor e praticante da mais estrita tradição valorativa e "moral" da classe, "Gus"(Daniel Auteuil) evade-se da prisão após dez anos de cárcere, e o submundo do crime que tinha abandonado está todo ele mais impuro e modificado na Paris dos 60's à qual regressa para encontrar a sua amante/femme fatale Manouche (Monica Bellucci).
A conjuntura de mudança para padrões da prática criminosa (consideravelmente mais aviltantes, ambiciosos e ultrajantes) e das lutas entre as forças concorrentes nos esforços de dominar o máximo território pelos máximos lucros obtíveis com tal domínio, traçarão para Gus um trajecto tão coerente quanto auto-destrutivo. Todo o rumo seguido por Gus (rota narrativa do próprio filme) está impregnado daquele cunho pessoal que faz dele um criminoso digno até aos olhos da polícia que, perplexa com a sua perseverança, somente por via de um engodo que tudo e todos precipita, alcança relativa eficiência. Saindo como único vencedor/vencido o código de valores do perigoso Gus sobre tudo o resto.
Estas são as linhas de um filme policial de nível acima do aceitável, levando o seu tempo, avanços e retrocessos, apresentando personagens, fornecendo meandros esporádicos, cuidadosamente filtrado numa aura vintage mas sem caír na tentação da presunção. É sobretudo pela humildade de se limitar a contar uma estória de um homem em face dos dilemas honra/pragmatismo, valores/sobrevivência que merece os aplausos. Isto e o facto de o fazer com uma pintarola de se lhe tirar o chapéu.
Senão repare-se: os primeiros 5 minutos em que se observa a evasão de Gus são de uma beleza incontestável ainda que a realização haja refreado certos tiques egocêntricos que espreitam num ou noutro lugar, porém aceitáveis. Há um certo culto da água das chuvas sobre o pavimento, tanto na exploração da sua imagem como na sonoplastia em torno delas. Somada à supra mencionada aura vintage proporciona momentos de suspensão dramática 100% hedonistas e inebriantes, o que num policial dos 60's com ladrões, golpes, tramas e intrigas é notável! Os americanos podem rodar filmes de gangsters à parva, mas não sabem fazer coisas destas, faltam-lhes as idas aos museus do Velho Continente :p
Além destes momentos de virtuosismo europeu, a realização (que viu quase tantos filmes com tiroteios entre a escumalha criminosa como Tarantino, só que em salas manhosas de cidades com nomes pouco pronunciáveis ou das quais poucos ouviram falar) cumpre a missão com um "bom" em caps lock e em estilo negrito. O cast vai pela mesma bitola receber exactamente a mesma classificação (sim, até Eric Cantona convence!). Daniel Auteuil, transporta sobre os seus ombros todo o peso narrativo/trágico sem nunca ceder ou mesmo parecer sentir tal incumbência, Monica Bellucci, é igual a si mesma: a Senhora imponentemente feminina que ainda assim desconhece por absoluto a palavra cliché ou o termo "lugares comuns" e Michel Blanc consegue interpretar à altura a mais excelsa personagem - o genial comissário Blot, que após o primeiro assassinato protagoniza a melhor cena de todo o filme, relatando os testemunhos que a polícia está prestes a receber de cada um daqueles que presenciou o crime (nenhum deles dizendo a verdade) e sob a fina película de água (qual sobra pluviosa sobre o pavimento do monólogo?...) que é toda aquela ironia experimentada e sagaz, Blot diz telepaticamente ao espectador "Eu sei o que tu viste" enquanto que aos seus interlocutores passa antes o recado "Não perco tempo com as vossas mentiras, já vi o que tinha a ver mas ainda assim a idade e o posto dão-me estes minutos de um protagonismo que gosto de assinalar com estilo".
"Le Deuxième Souffle" não é, nem de longe, nem de perto, a melhor das longas metragens. Apesar daquele monólogo 5* do comissário Blot o resto não acompanha, e a realização faz muito pelo argumento. Lembrem-se as cenas do duplo homicídio dentro de um carro a alta velocidade, m.o. de Gus, e tudo quanto se rodou indoors na noite do golpe: muito melhor a realização do que o argumento propriamente dito.
Há em tudo quanto aqui foi dito o déficit de conhecimento do filme original, pelo que se avalia a presente remake sem que em nada se considere o 1º.
Ainda assim está à altura do tempo e do dinheiro do bilhete e, gastos os dois, deixa um saldo francamente positivo.

Classificação: 3,5* em 5*

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Breaking Bad - Crítica



Título : Breaking Bad
Criada por : Vince Gilligan
Género : Drama/Crime

"Change the Equation"


Há muito tempo que andava para redigir uns pares de parágrafos a enaltecer umas das melhores séries que este ano assomaram ao pequeno écran.

A sinopse é simples: professor de Química do ensino secundário, classe média-baixa, com um filho que sofre de paralisia cerebral, pai de um bebé em gestação intra-uterina, descobre que sofre de cancro de pulmão, inoperável. Apertado de dinheiros até aos quarks, com um part-time extra curricular (numa lavagem automática) que ainda assim não permite o desafogo financeiro pretendido, antes lhe proporcionando mais humilhações, e confrontado com a finitude precoce, decide o que qualquer bom pai de família decidiria no seu lugar: produzir metanfetamina.

O primeiro episódio é um sopapo televisivo impossível. O senhor Vince Gilligan não anda a brincar com o que escreve, e os realizadores têm feito justiça às potencialidades (por vezes inacreditáveis) do argumento. Nem todas as séries criam com tanta eficácia o seu microcosmos de realidade enfabulada, sobretudo quando a esta se acrescenta uma dimensão de lucidez implacável e algo sinistra. Mas com um excelso Bryan Cranston [Emmy merecidíssimo!] vestindo a pele do conturbado protagonista Walter H. White, devidamente acolitado pelos irrepreensíveis Anna Gunn e Aaron Paul, o resultado só podia consistir em 7 episódios surpreendentes, de um magnetismo irresistível até ao último minuto.

Desenganem-se aqueles que julgam que em 7 episódios ficam pontas soltas e tudo tem de ser precipitado e condensado. Bem pelo contrário: leva-se o tempo todo que é preciso para cada cena, dá-se o plano todo que é preciso a cada personagem e nunca em momento algum se perde o rasto à saga de Walter White. Vítima e criminoso com quem inelutavelmente se cria empatia, o desespero silente e a luta que empreende em face dele são o mais humano dos dramas.

Por comparação, quiçá injusta para ambas, apelido Breaking Bad de "Weeds para adultos". Não proporciona gargalhadas, não é soft nem ameniza o quer que seja para ser mais "consumível" e mantém sempre uma vaga aura de concreto razoável... mas a situação-limite das finanças familiares na ruína e a opção por sacrificar valores em prol de meios menos ortodoxos para o mesmo fim, que consiste no "bem maior" da família estão lá. O resto da comparação prende-se com o ramo "laboral" escolhido pelos protagonistas. A grande diferença, porém, é que Nancy Botwin só há uma, Walter White pode ser o futuro desgraçado de qualquer um de nós...

Classificação: 4,5 em 5
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Produzido, na íntegra, para este sítio.

sábado, 11 de outubro de 2008

Nico Muhly "Mothertongue" - crítica


A tónica sobre a juventude de Nico Muhly (27 anos) é assunto incontornável sempre que se fala deste compositor daquele limbo musical onde a erudição, o clássico, o minimalismo e o impressionismo comungam sem que nenhum estilo exclua os restantes de um modo definitivo. No curriculum de Muhly constam colaborações com Bjork, Bonnie "Prince" Billy, Philip Glass e Antony Hegarty, bem como um primeiro álbum - “Speaks Volumes” - antecessor deste que aqui se aborda. Perante tal percurso, a idade impressiona mesmo.

“Mothertongue” divide-se em três partes: “Mothertongue”, “Wonders” e “The Only Tune”, e em cada uma delas a música contemporânea é tratada à mãos de uma pop com arranjos glaciares (há em Muhly traços vincados pelos comprimentos de onda a que nos habituaram os sons islandeses), com a exacta dosagem de samplagens tão prosaicas quanto investidas da mais objectiva candura versejante. Mas que não se esperem de “Mothertongue” melodias lineares e óbvias em face das quais obedecem esses elementos da contemporânea! O arrojo sonoro alia-se antes a um povoar de elementos fantasmagóricos suavemente harmonizados por uma “pop todo-o-terreno” (como alguém assertivamente a caracterizou), e a estrutura não poderia adequar-se mais ao conteúdo.

Aberto com os sussurros e sibilâncias entoados em crescendo por Abigail Fischer, “Mothertongue” (parte quadripartida “Arquive”, “Shower”, “Hress” e “Monster”) instala-se no ouvido e progride até à melancólica companhia que o piano vem fazer ao cântico angustiado posteriormente refundido naqueles murmúrios bulidos da alma. Mais orquestrada, “Hress” é melodia primaveril encerrada com “Monster”, que se veste de barroco mas celebra inquietude.

Justamente pelas linhas da inquietude se desenha o andamento seguinte, alcançando harmonia na finura sonora do cravo, somado, claro está, à bela prestação de Helgi Hrafn Jónsson (ponto alto no término da II parte de “Wonders”).

Porém, é com a última parte, “The Only Tune”, que Muhly alcança a completude. Chegados aqui percebemos que o disco enverga abordagens inconclusas de diversas dimensões atmosféricas-humanas. Em “The Only Tune” a dimensão acabadamente terrena até ao misticismo exacto da enfabulação-da-não-ficção é feita partitura. É preciso apreciar a folk para que a interpretação de Sam Amidon e o banjo surtam os devidos efeitos... e eis que o modo “repeat” passa a guilty pleasure imposto pelo hedonismo.

Para os ocasos que o Outono traz cada vez mais cedo, não se vislumbra melhor acompanhamento sonoro.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Pérolas cinéfilas improváveis


De nome claramente inspirado no hit single do já finado Dino Meira, a segunda longa-metragem de Miguel Gomes é a pérola cinéfila made in Portugal que merece ser vista por estes dias.
Por todo o lado este filme se etiquetou (com justiça) como documentário/ficção, mas arriscaria a dizer que ele é mais surrealmente prosaico/objectivamente poético. Esta minha etiquetagem conhece a sua única falha no facto de assim não traçar a divisão clara das duas partes em que se divide o filme...
(Texto integral aqui)

Let's look at the traila!

domingo, 27 de julho de 2008

The Dark Knight , de Christopher Nolan


A mestria de Christopher Nolan reside, sobretudo, na singular lucidez soturna e sempre cativante da sua objectiva, captando as realidades herméticas por câmaras a cujo comando preside como um peixe na água.
Transportar tal técnica para Batman sem tal representar um handicap, é sintoma de uma versatilidade reservada aos melhores, mesmo que o produto seja uma vulga adaptação da DC comics à 7ª arte.
Batman Begins não desencantou, bem pelo contrário, e repete-se a dose neste fabuloso The Dark Knight.
O upgrade Maggie Gyllenhaal por vez da insípida Katie Holmes , mais um Aaron Eckhart ao seu nível habitual (muito bom), sempre com os suspeitos do costume Gary Oldman, Michael Caine e Morgan Freeman , completando o leque o convincente (contra as minhas expectativas) Batman Christian Bale , fazem daquilo que poderia ser uma mera adaptação para facturar, uma obra digna de ser levada a sério, dentro do seu género, obviamente. Mas o que faz deste filme de super-heróis uma pérola, é Heath Ledger. E sobre isto tratar-se-á infra...
Sobre a acção propriamente dita:
A Gotham City chega um estranho palhaço criminoso, um anarquista, um servo/senhor do caos de semblante desfigurado num horrendo sorriso de cicatrizes disfarçado/realçado com a devida maquilhagem circense. Contrariamente aos restantes criminosos, o que o move não é a ânsia de poder nem o dinheiro, move-o antes o puro gosto pelo caos, pela destruição, provando que tudo e todos são passíveis de corromper: O Joker!
O argumento está eficientemente tratado, embora os acontecimentos sejam todos bastante previsíveis - tendo a vantagem de eu ter parecido genial nos momentos em que segradava à minha companhia "agora vai explodir a barriga do senhor" e cenas afins :p, como deliro com perseguições, tiros e explosões, é boa onda... embora a cena dos ferries seja, indubitavelmente, a melhor: não há explosões capazes de ombrear com a natureza humana submetida a um teste bárbaro!
Em suma: vale o dinheiro do bilhete e não desilude.

Agora sobre Heath Ledger:
Sobre isto terei objectividade zero, mas é essa a ideia.
Ledger ombreia com Hopkins e Nicholson enquanto senhores capazes de dar corpo a vilões que fazem história pela sua carga dramática acima das possibilidades equacionáveis. Dá vida a um Joker que de Ledger nem a voz tem, mas cujo talento inominável exorta o espectador a um tombar de queixo de incredulidade/apoteose dos sentidos, eis o motivo pelo qual se vai ao cinema quando está um dia lindo lá fora: não há sóis nem tempestades mais dignos de testemunho.
Muito afectada, esta declaração? Sem dúvida, que a ideia de um nauseado/amargurado Sonny Grotowski , do ímpeto épico-errante de Harry Feversham e a dor pura e absoluta de Ennis Del Mar (para não alongar a enumeração mais do que o estritamente necessário) tornam quem lhe deu corpo alguém cuja adição ao mundo o tornava um lugar mais rico. E clichés à parte, é isto mesmo.
Alguém jovem, dotado de um talento extraordinário que após o seu amadurecimento se tornou num fenómeno digno de observação tão cuidada quanto deleitada, subtraído à vida, à doce vida, ampla e magnífica nas suas possibilidades infinitas e extraordinárias, na sua surpresa novidade inesperada e surpreendente, sempre diversa e nunca porta fechada à inexorabilidade do tempo... excepto ao fosso da morte.
Morrer novo mistifica o defunto. Mas não há mito capaz de suprir a parede infinita de vazio, de orfandade que é saber-se que não mais sobre a terra caminhará quem um dia foi vida e é agora um mito.

Oscar póstumo? Se for merecido, depende das demais prestações que aí venham. Não há homenagens capazes de suprir a perda... e ainda assim senti o coração bater mais depressa no último In Memoriam da cerimónia...

domingo, 6 de julho de 2008

"The Incredible Hulk" review


Em 2003 saiu a primeira experiência de transposição da 9ª para a 7ª arte das aventuras do monstro verde, Hulk. Na qual tudo o que havia para correr mal, correu mesmo (o défice de 18 Milhões de dólares que o diga). Ainda que atrás das câmaras estivesse Ang Lee, o projecto estava ferido de um argumento frouxo e pipoqueiro, e Eric Bana foi um erro de cast colossal.
Anos volvidos, e a saga de Hulk regressa inesperadamente ao grande écrã. Desta feita às mãos adestradas na acção Domingo à tarde de Louis Leterrier. Isto é: competentes e eficazes, mas sem virtuosismos. E é disso que se vê em The Incredible Hulk.
Bruce Banner, agora vestido por Edward Norton, que imprime um cunho renovado à personagem, fugitivo e procurando cura para o desastre Gamma que o faz transformar no gigante verde incontrolável é localizado numa favela brasileira. Regressa aos EUA após ser descoberto e perseguido pelo General Ross eos seus homens, desencadeando mais um incidente Hulk. Entre estes militares está Emil Blonski, interpretado por Tim Roth, um combatente obsessivo que se submete a experimentações vindo a ombrear e mesmo ultrapassar Hulk.
Mas esse combate entre monstros, tão em voga por estes dias no mundo do cinema, explorado até à náusea e garantia da venda de bilhetes, estará reservado para o climax.
Até lá são os meandros da busca da cura e do reencontro de Bruce com a amada Betty Ross (Liv Tyler) mais uns momentos humorísticos com Tim Blake Nelson geek de serviço, caricatural e fabuloso enquanto tal.
A valorar: interpretações de Edward Norton, Tim Roth e William Hurt. A química entre Bruce e Betty continua deficitária e o sabor a pouca, muito pouca substância continua.

Vão 3,5* pelas prestações destes senhores e pela perseguição na favela Tavares Bastos (embora a confusão cena diurna/cena nocturna não abone muito a favor :s).