
Depois de tanto se dizer sobre «Avatar» de James Cameron, também eu tive de enturmar com uma cambada de caixas d'óculos dentro de uma sala de cinema, para me expôr à última maravilha revolucionária do cinema: a tecnologia 3D.
Ah, afinal isso do 3D já tem uns anos. Acho que a primeira vez que ouvi falar de tal cena foi na minha mais-que-pretérita infância. Um filme qualquer com monstros. Ou lá o que era...
Adiante!
Um marine paralítico calha a ser o escolhido. Um special one acidental mas que se sabe ab initio ser o lugar comum mais ordinário (em qualquer dos sentidos) que se poderia orientar.
E ele é o eleito para integrar uma equipa de cientistas que se dedica à exploração de um planeta distante - Pandora - e tão abundante de riquezas naturais como de baixas causadas aos humanos invasores, povoado por nativos especialíssimos - os Na'vi, que são uma mistura atabalhoada de elfos, tribos africanas dos clichés de Hollywood e falta de imaginação pura e simples. Para se integrarem na comunidade nativa, almejando um consenso entre humanos e Na'vi e o estudo do interessante planeta, os humanos criam corpos com DNA conjugado de ambas as espécies, transferindo a sua actividade encefálica para tais envólucros existenciais sempre que o espécime humano é adormecido naquelas caixinhas de dormir que todos os filmes sci-fi tendem a ter. Os avatar.
E porque é que o marine paralítico integra aquela equipa de sacrossantos cientistas?! Porque o seu irmão gémeo - sim, chega-se a isto em termos de telenovelismo, e só nos primeiros minutos de filme! -, cientista de profissão, já tinha o seu avatar encomendado quando morre vítima de roubo (latrocínio, para quem seja brasileiro ou não tenha adquirido Códigos Penais no séc. XX).
E o «Avatar» custou muito, muito dinheiro./E o avatar custou muito, muito dinheiro. - Espero que se perceba a ironia desta alternatividade declarativa.
Ou seja, antes uma besta de guerra para usar dinheiro empatado do que somente dinheiro empatado. Tem a sua lógica.
Assim, Jake Sully (o marine, conhecido no imdb como Sam Worthington) segue com a dita equipa, mas, aparentemente a reportar ao vilão consciente, Coronel Miles Quaritc - cópia rasquíssima do mítico Tenente-Coronel (esta patente existirá?) Bill Kilgore, numa escala tão exacta como a dos talentos Stephen Lang/Robert Duvall - ou seja, ao invés de ajudar os bons, ele ajudaria os maus!
Porém, como bom lugar comum que é toda a longa metragem do farfalha Cameron, Jake Sully fica acidentalmente para trás e encontra a filha do chefe... que, ao invés de o liquidar como até então era tradição fazer-se a TODOS, o protege. Decide o chefe que Jake aprenderá os modos dos Na'vi e blá, blá, blá, um monte de cenas de encher chouriço.
Claro que o Jake se apaixona pela civilização que entretanto integrou, pela filha do chefe e pretende proteger amigos e eleita a todo o custo. Há diálogos tão ridículos que se lacrimeja de vergonha solidária.
Até a temática ecológica assume uma vulgaridade impressionante!
Em suma: Avatar só veio revolucionar as buscas no google. Ao invés de pequenas imagens de bonecada e cenas parvas, povoa-se a página de uns Jar Jar Binks do FCP disfarçados de elfos.