Convecidíssimos de deterem umas social skills do catano, os entoantes do "Olá! Tudo bem?" saúdam os demais com um indian cow smile vagamente enérgico, devolvendo a semblância ao carrancudo-normal logo após esse momento instantâneo de encontro.
Imaginem-se num dia que não poderia estar a correr pior, ou que acabaram de ver a manchete do 24Horas, de saber o nome do rebento Ashlee Simpson/Pete Wentz ou visto a entrevista à Sara Palin em que aparece aquele senhor estranho a decapitar perus... aborda-vos uma dessas criaturas e vos diz "Olá! Tudo bem?".
Pois.
Responder algo que não seja uma anuência monossilábica é impossível sem que o visado com o cumprimento se sinta numa monumental figura de urso.
Vamos por partes:
1º Eles querem de facto dizer "Olá!".
2º Atiram o "Tudo bem?" para parecerem simpáticos.
3º Estão-se nas tintas para o estado das vítimas da sua saudação. E, consequentemente, para uma resposta negativa. Não porque sejam uns altruístas generosos, mas antes porque só a resposta positiva permite o descarte veloz da fortuita troca de palavras.
5º Caso não esteja tudo bem convosco - pelo amor da Santa! - não o dêem a perceber. Se o fizerem, vão-se sentir MESMO estúpidos!
O paradigma do ridículo da prática saudativa do "Olá! Tudo bem?" são as escadas rolantes: os "Olá! Tudo bem?" vão num sentido e as suas vítimas no sentido oposto. Nestas circunstâncias, o facto de a possível resposta àquela questão estulto-retórica ser absolutamente insignificante para quem a coloca adquire as graciosas dimensões de um hipopótamo a coleccionar dedais.
Como qualquer outra coisa que me cause estranheza, pergunto-me sempre pelas motivações. E o problema aqui será sobretudo o facto de elas serem óbvias: para serem simpáticos. --' Mas para isso não era preciso serem... uma beca parvos.
Como de inocente não tenho nada (ou assim pretendo fazer crer), uso o "Olá! Tudo bem?" com aquela gente por quem nutro indiferença ou inata desconsideração em virtude do seu "tipo". Já com pessoas dignas da minha real simpatia, e citando Mário Lino da era "A Norte do Tejo Rula!": jamais!
A utilização da expressão tem uma vertente belicista nada menosprezável dado o seu índice de lesão junto de pessoas que apreciem cumprimentos decentes e/ou , conscientes das 5 verdades supra expostas, sejam susceptíveis de ficar abatidas com o facto de outrem se lhes dirigir com o "Olá! Tudo bem?" em dias merdosíssimos.
Certo é que a expressão prolifera preocupantemente (embora não tanto como aqueloutra "É assim!...). Muitas são as reclamações em tom de desabafo. As vítimas sentem-se acanhadas na hora de se confessar lesadas com ocasiões menos felizes nas suas vidas em que se viram obrigadas a responder "Sim" com absoluta falsidade a um mefistofélico "Olá! Tudo bem?".
Alguém faça alguma coisa!
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Com isto tudo até perdi os meus bons modos... caro leitor: Olá! Tudo bem?