Há muito, muito tempo, era eu uma criança de 4 anos, dei um tralho tão espectacular que encaixei a testa no bordo metálico de uma porta, ganhando um lenho monumental na testa, hoje escassa cicatriz perante os demais, mono estético quando me vejo ao espelho.
A minha mãe, sempre animada de serenidade e calma extremas, vendo-me de cabeça aberta e a sangrar que nem um porco na matança, correu para mim gritando em desespero "Ai filha que vais MORRER!!!!!"
O tralho foi dado a 30 km do hospital mais próximo, de modo que quando lá cheguei estava semi k.o. e borradinha de medo de bater a bota (a minha mãe continuava muito defensora dessa possibilidade). Senti a maldita linha a ser introduzida por uma agulha, numa cosidela quase tão dolorosa quanto a taxa de desemprego actual.
Os meus pais, ao invés de aguardarem de coração nas mãos, alheados do mundo extra-eu, pelo bom sucesso do curativo, riram-se que nem alarves o tempo todo que estive submetida àquela tortura. E nem sequer foi de mim!
E porquê o riso? Ao que parece, um certo garoto lá das redondezas também partiu a cabeça e acabou por ser cosido ao mesmo tempo que eu, na sala ao lado. Mas ao invés de estar zombieficado de medo e resignado à dor, urrou como se não houvesse amanhã coisas belas e adequadas como "Larguem-me os cornos suas putas do caralho!", "Ó cabrão estás a aleijar-me!", "Foda-se! Foda-se! Foda-se!", etc, etc.
E afinal o puto é que tinha razão.