Vai para uma década e meia, num fim de tarde, fui apresentada a uma certa e determinada recém-nascida, de boca instável e corpo mais frágil que a tese da conspiração Fri Pór.
Apesar de quando me foi noticiada a existência de um colateral em 2º grau vindouro ficar fora de mim e tão desejosa desse acontecimento como de navegar ao largo da costa somali, ao longo da gestação intra-uterina o feto só aderia ao chamamento térmico das minhas mãos. Fui promovida "ajeitadora da mana quando se instala de forma desconfortável para a mãe" tão naturalmente como o Alberto João a líder lá daquela pazada de terra com água de roda.
Naquele 22º de Abril, findo mais um dia de exposição aos conteúdos programáticos do 7º ano com uma serva do Ministério a perguntar-me se já era irmã, ignorando eu que poderia ter respondido afirmativamente, ia com a expectativa de aquela criatura percussionisto-espiritual ostentar uma beleza que fizesse jus às ternuras que sapiente e astutamente me havia sacado. Na realidade era um bebé estranho, todo untado dos dejectos da vinda ao mundo, confuso, incomodado e ensonado.
Depressa me foram delegados quase todos os cuidados e encargos daquele que é e será o meu mais válido, arrojado e apaixonante projecto neste mundo: criar alguém.
Hoje a minha amiguinha de '94 que sinto intemporalmente, celebra a existência. E eu é que me congratulo pela sorte de testemunhar e participar na maravilha que ela é.
[O amor incondicional tem a vantagem de a criatura me aturar as figuras de estilo bimbas e gostar de mim apesar disso ='D]
Imagem pelo WS, que calha a ser um virtuoso inconfesso nos grafismos jóia.