O Eduardo, além de percorrer a escola numas Converse All Star com um símbolo da anarquia desenhado com caneta bic azul sobre a borracha branca da biqueira, escarrando nos longos cabelos da Fátima (nome fictício) e ostentar quase sempre uma ameaça de ranho verde amarelado no canto da narina direita, tinha como uma das suas actividades favoritas desenhar o mapa-múndi no quadro.
[Naquele tempo os quadros escolares não eram amaricados como os de agora. Eram de ardósia e escrevia-se neles com giz. O mesmo giz que se gamava generosamente para depois escrever obscenidades mentecaptas nos pavimentos.]
Depois, escrevia imediatemente acima do Ártico: A JUSTA DIVISÃO DO MUNDO.
E como era essa justa divisão do mundo? Na Austrália, que pintava exaustivamente com giz carregado, (gastava praí meio pau de giz só com isso), apunha a indicação de «Pretos». No restante espaço: «Pessoas».
É bem capaz de ter feito isto a quase todos os professores que davam aulas decentes e, muito provavelmente, seriam pessoas subsumíveis à categoria de «boa gente». Ou seja, aqueles que não mereciam ter de aturar aquilo, mas até calhavam sorrir com pena dele.
Tudo isto porque ao visitar o EatLiver me deparei com algo na linha criativa do mencionado rapaz:
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Que se saiba, a alma do Eduardo nunca foi salva. A professora de Francês ainda tentou. Comoveu-se por causa de uma hoody dos Bad Religion que ele usava. A senhora não sabia que as palavras «Bad Religion» eram o nome de uma banda. Pensava que era só propaganda anti-religião.
Mas como a salvação proposta foi conjugação de verbos em francês, o regresso do Eduardo à luz divina foi definitivamente embargado.