terça-feira, 27 de julho de 2010

Das Merdas e das Cenas Havidas como Produtos Jornalísticos Culturais

Falamos na primeira pessoa do plural mas somos só um gajo armado aos cágados. A chico-espertice obriga a estes artefactos da multiplicação personalística. Não interessa muito o porquê. Mas ficamos bem à brava insinuando que há em nós toda uma singularidade plural preenchida de uma certeza cagona capaz de afugentar os incautos mais dados a essa nesciedade que é ser-se normal e autêntico.

Deslocamo-nos, com adjectivações desadequadas mas que descrevem qualquer coisa que não seria, pelo menos aos nossos olhos, óbvia para mais ninguém, a um qualquer sítio que, por acaso, e só por acaso, tende a ser o mesmíssimo enfatuado bar de hotel, para falar com um troll qualquer que afinfou músicas no myspace e agora é o não-sei-quantos que nos impressiona tanto que até cá viemos. Também conhece um ou dois vultos da música, porque compra pastéis de rola magra no mesmo café que essoutros conceituados. Não interessa nada. O sujeitinho que é A cena pensa que é pelos desarranjos sonoros que produz, e nós também. Que ser crentes que nem cordeiros a mamar Valium está-nos na massa do sangue.

Ainda que o texto que produzimos laboriosamente em torno deste acontecimento seja publicado agora, isto já aconteceu vai para semanas, senão meses. Publicamos o que queremos quando queremos. O sentido de oportunidade e aquilo de prestar um contributo útil para o leitor são valores que para nós importam tanto como direitos humanos na Coreia do Norte e democracias afins. Em boa verdade, por vezes somos tão hardcore na falta de timing que até partimos em missões destinadas à procura de vida cultural além-do-óbvio no rescaldo de qualquer coisa que é capaz de ter sido vida cultural efectiva.

Antes disto também falámos com o menino-Jesus ora contemplado e indagado. Mas foi ao telefone. Era outro momento na sua carreira. Bitaitamos sobre esse tal momento e o actual. Debitamos em torno disso lugares comuns e plagiamos disfarçadamente, ou não, quase todas as frases que os críticos estrangeiros – wow! – já escreveram/disseram até à náusea. Foda-se!, até parecemos originais.

Sabemos bem o que estamos a fazer. Wikipediámos durante eras geológicas. O tempo livre entre mãos é a nossa maior bênção. Afinfamos astuciosamente todo um sem número de referências hipoteticamente relacionáveis com a personalidade/projecto em questão. A maior parte foram localizadas em blogues de gente que de facto aprecia música e sabe duas ou três coisas sobre o assunto, escreve para divulgar a arte que lhe deslumbra os sentidos, fazendo-o com gosto e humildade, sem peneirices e enchidelas de chouriço tão discretas como plumas púrpura atulhadas de brilhantes.

Nada nos parece demasiado pretensioso, nem mesmo o pateta alegre que diante de nós disserta sobre coisas que não interessam a vivalma e são tão originais e artísticas como os brindes da revista «Bravo». Aliás, estamos tão impressionados com este ser verdadeiramente extraordinário – todos aqueles que nos vêm parar às mãos o são – que não nos cansamos de o referir, frase após frase. Tudo o que esta fabulosa criatura faz e diz – banalidades e infantilidade senil na idade pré-adulta, acrescidas de uma carência afectiva profunda como a estupidez dos talk shows para aposentados das estações de tv que emitem em sinal aberto – nos deslumbra e cria nas nossas cavidades bocais uma salivação que a fase oral freudiana é capaz de referir.